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O êxodo da bolsa: Por que cada vez mais empresas estão deixando a B3?

Resumo

Nos últimos anos, o número de empresas deixando a B3 tem aumentado significativamente. Fatores como juros elevados, baixa liquidez das ações, altos custos de manutenção do capital aberto e oportunidades de valorização por meio de ofertas públicas de aquisição (OPAs) têm impulsionado esse movimento. Além disso, o crescimento das recompras de ações reflete um cenário em que muitas empresas optam por estratégias financeiras alternativas à permanência no mercado acionário.

1 O Movimento de Saída das Empresas da Bolsa

A decisão de sair da bolsa não é algo que ocorre da noite para o dia. Envolve uma análise profunda sobre a relação custo-benefício de manter o capital aberto e os desafios do mercado acionário. Segundo especialistas, há um número crescente de empresas brasileiras cancelando o registro na B3, movimento que se acentuou nos últimos anos [1].

Em 2023, o número de empresas que pediram deslistagem já era o maior dos últimos quatro anos [2]. Em 2024, companhias como a Cielo, parte do grupo Carrefour (Atacadão) e Eletromídia anunciaram planos de saída [1]. A tendência parece continuar em 2025, com mais empresas estudando esse caminho, principalmente por conta das condições macroeconômicas desafiadoras [3].

1.1 Juros Elevados e a Desvalorização das Ações

O Brasil enfrenta um período prolongado de juros elevados, o que tem impactos diretos no mercado de capitais. Com a taxa Selic em dois dígitos, investidores preferem aplicações de renda fixa, que oferecem retornos seguros e previsíveis, sem a volatilidade da bolsa [1].

Isso leva a uma redução na demanda por ações, afetando negativamente os preços dos papéis e tornando o mercado acionário menos atrativo. Para muitas empresas, isso representa uma oportunidade para fechar capital, recomprar ações a preços baixos e administrar os negócios sem a interferência dos acionistas minoritários [3].

Além disso, a falta de novos IPOs (ofertas públicas iniciais) nos últimos anos agrava a situação. Desde 2021, praticamente não há novas listagens na B3, o que contribui para um encolhimento do mercado de capitais brasileiro [3].

1.2 Os Custos de Manutenção do Capital Aberto

Manter uma empresa na bolsa exige uma série de compromissos financeiros e regulatórios. Entre os custos estão:

  • Taxas e tributos: Empresas listadas precisam pagar taxas regulatórias e impostos, que podem atingir milhões de reais anualmente [5].
  • Obrigações contábeis e regulatórias: A necessidade de publicar balanços trimestrais e cumprir regras de governança corporativa exige um alto investimento em auditoria e consultoria [5].
  • Pressão do mercado: Empresas listadas precisam lidar com a volatilidade das ações e a influência dos investidores minoritários nas decisões estratégicas [5].

Com essas obrigações, muitas empresas optam por fechar o capital para reduzir custos e ter maior flexibilidade na gestão do negócio. Isso é particularmente atraente para empresas que enfrentam dificuldades financeiras ou que possuem baixa liquidez no mercado [2].

1.3 A Diminuição da Liquidez e a Saída de Empresas

Outro fator crítico é a baixa liquidez das ações de algumas empresas listadas. Quando os papéis de uma companhia têm pouca negociação diária, os investidores enfrentam dificuldades para comprar e vender as ações no mercado [5].

Empresas com baixa liquidez enfrentam desafios para captar recursos na bolsa, tornando a listagem menos vantajosa. Além disso, a baixa demanda pode fazer com que as ações fiquem subvalorizadas, criando um incentivo para os controladores recomprá-las e fechar o capital [3].

Em muitos casos, a decisão de sair da bolsa ocorre porque os acionistas majoritários consideram que suas ações estão sendo negociadas abaixo do valor real da empresa. Isso permite que eles comprem os papéis de volta a preços vantajosos e administrem a companhia sem a necessidade de prestar contas ao mercado [1].

2 Recompras de Ações: Estratégia para Sair da Bolsa?

Outro fenômeno que se intensificou nos últimos anos é a recompra de ações. Em 2024, a B3 registrou um número recorde de 126 programas de recompra, totalizando 4,8 bilhões de papéis [4].

A recompra de ações pode ter diversas motivações:

  1. Aumentar o valor das ações restantes: Com menos papéis disponíveis no mercado, o valor unitário das ações tende a subir [6].
  2. Fortalecer o controle dos acionistas majoritários: Reduzindo o free float, os controladores ganham maior poder sobre a empresa [6].
  3. Sinalizar confiança no próprio negócio: Empresas que recompram suas ações demonstram acreditar no seu crescimento futuro [6].

Combinada à tendência de fechamento de capital, a recompra de ações pode indicar um movimento mais amplo de retração do mercado de capitais brasileiro [4].

3 Impactos para os Investidores

A saída de empresas da bolsa tem impactos diretos nos investidores, especialmente nos acionistas minoritários. Em geral, quando uma empresa decide fechar capital, ela lança uma OPA (Oferta Pública de Aquisição), oferecendo um valor pelos papéis que ainda estão no mercado [5].

Embora, em uma OPA, normalmente se ofereça um prêmio em relação ao valor de mercado das ações, os investidores podem acabar sendo forçados a vender seus papéis a um preço que consideram abaixo do potencial da empresa [5].

Além disso, a diminuição do número de empresas listadas reduz as opções de investimento na bolsa brasileira. Isso pode levar a um mercado mais concentrado e menos atrativo para novos investidores [3].

4 O Que Esperar para o Futuro?

A tendência de fechamento de capital deve continuar enquanto as condições macroeconômicas permanecerem desafiadoras. Enquanto os juros estiverem altos e o mercado acionário apresentar baixa liquidez, muitas empresas continuarão considerando a saída da bolsa como uma alternativa viável [1].

Entretanto, mudanças regulatórias recentes podem facilitar algumas operações de OPA, tornando o processo mais rápido e eficiente [3]. Isso pode incentivar mais empresas a seguirem esse caminho nos próximos anos.

Além disso, uma possível redução da taxa Selic no futuro poderia tornar a bolsa mais atrativa novamente, incentivando novas listagens e revertendo, ao menos parcialmente, o movimento de saída de empresas [4].

Conclusão

O êxodo de empresas da B3 reflete um ambiente macroeconômico adverso, custos elevados de manutenção do capital aberto e baixa liquidez do mercado acionário. O aumento das recompras de ações e a valorização dos papéis também contribuem para essa tendência, tornando o fechamento de capital uma decisão cada vez mais comum entre as companhias brasileiras.

Se o cenário econômico não mudar nos próximos anos, a bolsa brasileira pode continuar encolhendo, tornando-se um mercado menos dinâmico e com menos oportunidades para investidores.

Fontes:

  1. Gamarski, R., Nascimento, B., & Alvim, L. (25 de fevereiro de 2025). LWSA, Positivo e Ourofino avaliam sair da B3, dizem fontes. Não são casos isolados. Bloomberg Línea Brasil. https://www.bloomberglinea.com.br/mercados/lwsa-positivo-e-ouro-fino-avaliam-sair-da-b3-dizem-fontes-nao-sao-casos-isolados
  2. Laporta, T. (24 de julho de 2023). Número de empresas dizendo adeus à bolsa já é o maior em 4 anos. InvestNews. https://investnews.com.br/financas/numero-de-empresas-deixando-a-b3-ja-e-o-maior-em-4-anos/
  3. Machado, J. (01 de fevereiro de 2025). Adeus, bolsa: Fechamento de capital de empresas cresce e deve ganhar mais força em 2025. VEJA. https://veja.abril.com.br/economia/adeus-bolsa-fechamento-de-capital-de-empresas-cresce-e-deve-ganhar-mais-forca-em-2025
  4. Moura, J. (04 de fevereiro de 2025). Recompras de ações batem recorde em 2024 e tiram bilhões da Bolsa brasileira. Folha de S.Paulo; folha.uol.com.br. https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2025/02/recompras-de-acoes-batem-recorde-em-2024-e-tiram-bilhoes-da-bolsa-brasileira.shtml
  5. Oliveira, I. de. (30 de outubro de 2023). Dobra número de empresas que pedem para sair da Bolsa. O que isso indica? Estadão E-Investidor – as Principais Notícias Do Mercado Financeiro. https://einvestidor.estadao.com.br/negocios/dobra-empresas-sair-bolsa-que-significa/
  6. Santos, J. P. dos. (05 de fevereiro de 2025). O que é a recompra de ações e quais os efeitos para os investidores. Bora Investir. https://borainvestir.b3.com.br/tipos-de-investimentos/renda-variavel/acoes/o-que-e-a-recompra-de-acoes-e-quais-os-efeitos-para-os-investidores/

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